quarta-feira, 29 de março de 2006

Nada de compras na China, até o momento.


Aos 50 anos a indústria automotiva brasileira ainda padece com graves problemas de falta de qualidade e é imprescindível eliminá-los para que a competitividade perante China, Índia e novos players seja assegurada. Essa foi uma das principais conclusões do painel que reuniu os diretores de compras de Renault, Emmanuel Gavache, PSA Peugeot Citroën, Maurício Martins, Ford, Vagner Galeote, Fiat, Vilmar Fistarol, além de Karen Leggio, vice-presidente de compras da General Motors para LAAM, região que abrange a América Latina, África e Oriente Médio, no seminário AutoData Compras Automotivas – Hora do Crescimento. Vilmar Fistarol foi o primeiro a dar o alerta de que o índice de PPM, parte por milhão, utilizado pela cadeia para medir peças defeituosas, está alto demais. “As empresas precisam fazer o dever de casa com mais precisão. Não dá para falarmos em competitividade se em cada volta de férias coletivas o índice de qualidade vai lá para baixo.” Nesse sentido o executivo enxerga China e Índia muito mais como oportunidades do que ameaças: “A China é uma realidade, porém, que vem para alargar escala e melhorar a qualidade local. Não podemos só reclamar que a China vai acabar com tudo. Temos engenharia, competência e história de indústria. Precisamos trabalhar para enfrentar essa ameaça”. Aliando o tema China à qualidade o diretor da Fiat aproveitou para corrigir notícias publicadas pela imprensa de que Cledorvino Belini, presidente da empresa, afirmara que importaria peças. Assim como publicado no Boletim AutoData de 15 de março, Belini teria pedido aos fornecedores que verificassem a possibilidade de importar subcomponentes da China como meio de reduzir custos. Na Ford a importação de componentes do país oriental também está descartada, mas o tema não deixa de ser abordado. Ao contrário, consta em todas as reuniões de Galeote com seus fornecedores. “Sempre digo que estamos em uma guerra global pela produtividade e investimento. Quem fechar os olhos perderá espaço. E para que os nossos fornecedores continuem no jogo trabalhamos arduamente sobre índices macroeconômicos e de produtividade. Temos compromisso com a nossa cadeia, mas exigimos qualidade em troca.” PSA e Renault também afastam a possibilidade de substituição de componentes locais por outros com bandeira vermelha e amarela. Na PSA estão mantidos planos de nacionalização ainda que importar componentes, há pouco localizados, se mostre mais vantajoso atualmente devido ao real valorizado. “O projeto de nacionalização da empresa foi planejado com muito cuidado levando-se em conta critérios logísticos, produtivos e administrativos, não vamos abrir mão do nosso plano”. Na Renault o pensamento é semelhante. O Logan que será lançado no ano que vem deve chegar com índice de nacionalização de 86%, com meta já estipulada de alcançar 96%. Gavache, no entanto, concorda com seus pares sobre a necessidade de melhorar qualidade em paralelo a projetos de redução de custos. “Falar sobre custo de produto e traçar comparações se a estratégia fosse outra é complicado. Optamos pela nacionalização de peças e vamos manter nossa posição.” Das montadoras presentes ao evento a única que confirmou importação da China foi a General Motors. Para Karen Leggio, no entanto, a compra de pneus para o Celta é pontual e o compromisso da empresa é conquistar a rentabilidade no Brasil este ano com a ajuda de fornecedores locais e da Argentina. No Brasil a montadora está em meio a processo de ampliação da base de fornecedores gaúchos para suprir a expansão de seu Complexo Industrial Automotivo de Gravataí, RS. E na Argentina a meta de Karen é aumentar de 45% para 70% o conteúdo nacional na produção da fábrica de Rosário. O sócio do Brasil no Mercosul também foi alvo de duras críticas durante o painel. Fistarol admite que as possibilidades de importação da Fiat da Argentina hoje estão limitadas a motor e a câmbio, componentes que são produzidos na fábrica de Córdoba. Para Galeote a questão do Mercosul esbarra mais uma vez na qualidade: “As empresas da Argentina precisam trabalhar arduamente em melhorias de processo, de gestão financeira e de qualidade de produto. Só assim o intercâmbio poderá sair do papel para se tornar concreto rumo ao aumento de escala na região”. Gavache enxerga as relações com o vizinho de maneira mais otimista: “A Argentina tem extrema competência na indústria de metal mecânicos, vamos aproveitar esse diferencial deles para estreitar as relações”. Buscar nichos de mercado e expertise do lado de lá também é umas das missões de Karen na GM. Com críticas ou afagos, todos os representantes de montadoras presentes no seminário foram unânimes em um ponto: para que a indústria argentina se recupere é preciso união da cadeia com projetos claros das fabricantes de veículos para a região. Só com escala, resumiu Mauricio Martins, a indústria de autopeças terá capacidade de retomar investimentos. Ao fim de duas horas de trocas de informações de platéia, em sua maioria fornecedores, e palestrantes o painel terminou com um desafio proposto por Fistarol: “Fazer o dever de casa eliminando desperdício, reduzindo custos é muito comum quando a indústria está em crise. É preciso enxergar que essas providências precisam ser tomadas hoje, com a produção em alta, para que os prejuízos no futuro sejam menores”.
Fonte: Autodata

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