segunda-feira, 27 de março de 2006

SETOR DE AUTOPEÇAS JÁ VÊ "DESNACIONALIZAÇÃO"

Os fabricantes de autopeças esperam uma queda de até dez pontos percentuais no atual índice de nacionalização dos componentes utilizados pelas montadoras no país por causa do câmbio atual. O índice de nacionalização das autopeças em carros compactos no Brasil varia hoje de 80% a 90%. "Em termos de volume, uma queda de dez pontos é uma enormidade", afirma Paulo Butori, presidente do Sindipeças, que representa o setor de autopeças. Para 2006, o Sindipeças espera uma queda de US$ 350 milhões no superávit comercial do setor, principalmente por causa de fornecedores chineses, tchecos e coreanos, cada vez mais agressivos. Butori afirma que as próprias montadoras intimaram os seus fornecedores chamados de "primeiro nível" (entre 40 e 50) a induzir quem os abastece (cerca de 400) a buscar componentes com preços melhores fora do Brasil. Com o câmbio atual, a tarifa de proteção média do setor, de 10%, não é mais um impedimento. "É como se estivéssemos caindo do 22º andar. Estamos lá pelo 10º e o ventinho é bom, mas há um chão duro lá embaixo", diz Butori, ao lembrar que desde o Plano Real o setor de autopeças cortou mais de 200 mil funcionários, chegando aos atuais 150 mil. Para o economista José Márcio Camargo, da PUC-RJ e da consultoria Tendências, setores protegidos por tarifas de importação elevadas, como o de máquinas e autopeças, acabam sendo vítimas de sua própria situação. A tarifa aduaneira máxima de 14%, diz, é muito alta para os padrões internacionais e, além de preservar áreas ineficientes em determinadas empresas, acaba contribuindo com os elevados superávits comerciais - motivo da apreciação do real sobre o dólar. "Se as tarifas fossem menores e houvesse importações maiores desses setores, assim como na área de informática, onde a proteção também é alta, seguramente teríamos um superávit comercial menor e um real menos valorizado", afirma Camargo. Nesse cenário, diz, os setores mais competitivos da economia acabam, na prática, "subsidiando" os mais protegidos. "Nos setores mais protegidos, inovações tecnológicas são sempre mais difíceis", afirma. (Folha de S. Paulo)

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